sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Aqui na Residência de Estudantes...

Na residência de estudantes onde vivo, os quartos são duplos. A cozinha e as duas casas de banho são usadas por 16 pessoas. Sim, a hora de jantar é uma grande confusão, mas também é muito divertido...

Imaginem lá, o que são 16 raparigas que se encontram todos os dias... Há muito mexerico!

Acontece que em 16 pessoas, como é natural, existe gente mais extrovertida, ou demasiado extrovertida, e existe gente muito envergonhada e timída.
Há pelo menos umas três raparigas, que esperam que a cozinha se esvazie, para poderem ir cozinhar. Não se sentem à vontade com tanta gente e tanta agitação. Não é fácil!

Muitas vezes, o tema da conversa ás refeições, é precisamente a timidez e a vergonha das outras raparigas. Diz-se que elas são umas "anti-sociais" e "antipáticas", que não dizem nada a ninguém quando se cruzam nos corredores, etc.

Ora bem, eu tenho umas dúvidas acerca de tudo isto... São elas que se excluem, ou somos nós que as excluímos a elas? Não seremos nós as responsáveis pelo mal-estar delas? Até que ponto o nosso comportamento as pode prejudicar?

Sinceramente, o que eu acho é que nós temos a nossa quota parte da responsabilidade. É verdade que sim, elas são muito envergonhadas e tímidas, mas nós não facilitamos muito. Seria muito ético da nossa parte, dizer-lhes para jantarem connosco à mesa, quando as vemos ir embora da cozinha com os pratos na mão, para irem comer para os quartos...

Da mesma maneira que só existem os ricos, porque existem os probres, podemos também afirmar que só existem as pessoas desinibidas porque existem as pessoas envergonhadas. E é assim que as pessoas "se fazem umas ás outras", e é assim, que a razão de o mérito de uns, cresce apartir da desgraça de outros.

Vejamos o caso do Belmiro de Azevedo, é verdade que ele tem o seu mérito... Mas à custa de quanta gente? Certamente na vida se cruzou com pessoas mais apáticas, e que assim contribuíram para a formação da sua personalidade que fez dele, aquilo que é hoje. Isto também me leva a crer que ninguém é exclusivamente responsável pelo seu mérito, da mesma maneira, que ninguém é responsável pela sua desgraça.

Acredito assim, que a existência da pobreza e da exclusão social, não é um fenómeno isolado. Ou seja, se na nossa sociedade temos os excluídos, é porque, de alguma maneira, alguém acabou por se engradecer à custa da desgraça de outros... Tal como nós nos engradecemos e assumimos enquanto pessoas socias aqui na residência de estudantes.  Muito à custa da timidez das outras raparigas, das quais não conhecemos nada, e que por esse motivo, se torna mais fácil para nós julgá-las. Nós não conhecemos as conhecemos. Não sabemos as suas histórias de vida que podem ser causa da sua vergonha e timidez...

Li num livro de Alfredo Bruto da Costa, que a pobreza é um fenómeno social e que não será resolvido, enquanto a sociedade não admitir que é parte do problema, uma vez que é a própria sociedade que cria a pobreza.

Ora bem! É precisamente isto que se passa na minha residência de estudantes, a causa do isolamento destas raparigas, somos nós. Somos nós que as excluímos, não são elas que se excluem. Somos nós a causa da vergonha e timidez delas. Somos nós o motivo de elas comerem no quarto. Somos nós o motivo de elas serem anti-sociais. Somos nós que as intimidamos.

Para que estas raparigas deixem de comer nos quartos, é preciso que nós percebamos que somos nós o problema, e que o motivo de elas serem assim, é culpa nossa.

Tal como a problemática da pobreza e exclusão social. A pobreza só pode desaparecer quando a sociedade se vir como parte do problema, e por isso, a solução.

1 comentário:

  1. Todos temos que assumir as nossas responsabilidades com a meta de tornar a sociedade mais justa e fraterna...

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