Novo semestre, novo horário e nova rotina. A quarta-feira é o dia livre, como tal, e para celebrar a primeira semana de aulas do novo semestre ficou combinado um lanche pela tarde. Ia eu rua abaixo, para o local onde combinámos encontrar-nos e ao passar pelo Centro de Emprego, um homem com os seus 40 ou 50 anos - sou péssima a avaliar pessoas pelo seu aspecto, erro sempre por muitos - pediu-me dinheiro para o pão, por duas vezes. Não parei. Olhei duas vezes para trás e não apressei o passo. Fiquei um bocado incomodada com a situação.
Fomos lanchar. Éramos cinco estudantes de uma licenciatura sentadas na esplanada de um bar. Conto a história do homem que pede dinheiro para comprar pão, mais gente conta mais histórias de outras gentes e chegamos ao tema - ciganos! O que se seguiu foi uma vergonha. Disseram as minhas colegas que os ciganos eram uns ladrões, gente perigosa e orgulhosos da sua etnia, que mais não serve do que para intimidar os outros. Mas isto piorou. Disse outra colega minha que com os ciganos só havia uma coisa a fazer, "colocá-los todos dentro de uma tenda e atirar bombas lá para dentro para os exterminar a todos" - palavras dela.
Enquanto decorria esta porcaria de conversa, militantes do Bloco de Esquerda distribuíam pela esplanada panfletos que não chegaram até nós. Ao ver esta cena, cada uma de nós assumiu ser do Bloco de Esquerda.
Quanto a mim, estas conversas deixam-me muita assustada. Perturbada até. Vim para casa descontente com a forma como pensam as minhas amigas. Muito desiludida. Eu não permito a mim mesma pensar desta forma. Não deixo. Fazê-lo, seria "encaixar" as pessoas numa ideia pré-formada que tenho na minha cabeça e que me impediria de acreditar que as pessoas conseguem ser mais do que aquilo que penso delas.
Se ainda entendo que os meus pais, tios, familiares, pensem desta forma é para muito difícil aceitar isto em estudantes do ensino superior. É inconcebível e deixa-me com uma amargura muito grande em relação ao futuro do meu país, do meu mundo.
Julgo muitas vezes que só uma formação superior e de qualidade pode formar melhores cidadãos; mas conversas destas, que não têm sido poucas desde que entrei para a faculdade, deixam-me apreensiva, assustada, muito assustada.
Sinto-me perdida... Mas não desisto!