terça-feira, 1 de março de 2011

"Ser feliz é estar sempre contente!"

Este sábado, por motivos alheios, dei uma catequese completamente improvisada a uma turma que nem tão pouca é a minha.
Dei portanto, catequese à turma do primeiro ano. Eram 9 míudos, um com sete anos e os restantes com seis anos.
À espera de uma resposta diferente, perguntei a estes míudos o que era ser feliz. A resposta foi unânime e ninguém discordou, disserem eles, "ser feliz é estar sempre contente". Considerei uma boa resposta para míudos de seis anos e depois perguntei-lhes se eram felizes. A resposta foi em coro "Nããããããão!"

Entendo ao ouvir os meus putos, não estes, que andar hoje na escola primária é diferente. Muitos míudos sentem-se desde cedo frustados, não têm telemóveis como os outros, não têm consolas, vestem-se "menos bem" que os outros ou, simplesmente, levam para a escola um lanche menos guloso que o dos outros.

Competição, competição, competição,... Em tudo está a competição e por todo o lado estão as vítimas.
Disse o ano passado uma míuda a quem dou catequese para a outra "Eiii que saia tão feia!..." Fica a outra intimidada, sem a capacidade para lhe responder e encosta-se à parede à espera que a catequista a chame para ir para a sala.

A frustração não se apodera do Homem apenas na adolescência ou na idade adulta, sente-se cada vez mais cedo.

Há dois anos trabalhei num infantário com crianças dos 3 aos 5 anos. Quando chegavam as meninas de manhã as educadoras não hesitavam em dizer "Que vestido tão bonito!", "Uma camisola nova!", ou "Umas unhas tão bonitas e cheias de brilhantes!!"  Todas as manhãs acontecia isto e depois lá passavam as meninas pelas mesas a mostrar a todos as unhas brilhantes ou a camisola nova. Mas até aqui, em nada discordo... As meninas são todas muito vaidosas. Eu sou vaidosa!

Mas este "desfile" e elogios logo pela manhã não me deixavam confortável por um motivo. Todas as meninas são vaidosas, é verdade, mas nem todas têm a possibilidade de se vestirem como querem. Esta "avalanche" de elegios tinha efeitos muitos perigosos.
Acontecia que tínhamos no infantário a mesa das meninas que se vestem bem e que recebem os elogios de manhã, e a mesa das meninas que chegavam tantas vezes ao infantário de fato-de-treino e sapatilhas, mesmo não havendo educação física.
Mesmo no recreio, as meninas que tinham roupas lindas e bonitas não deixavam as outras entrar nos jogos delas e brincar com os brinquedos que traziam.

Orgulho-me de poder dizer que fui uma criança muito feliz. Em nehuma manhã me preocupei com a roupa que vestia escolhida pela minha mãe. A realidade de hoje já não é esta! Não admira assim, que crianças com seis anos digam que não são felizes.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dia livre!

Novo semestre, novo horário e nova rotina. A quarta-feira é o dia livre, como tal, e para celebrar a primeira semana de aulas do novo semestre ficou combinado um lanche pela tarde. Ia eu rua abaixo, para o local onde combinámos encontrar-nos e ao passar pelo Centro de Emprego, um homem com os seus 40 ou 50 anos - sou péssima a avaliar pessoas pelo seu aspecto, erro sempre por muitos - pediu-me dinheiro para o pão, por duas vezes. Não parei. Olhei duas vezes para trás e não apressei o passo. Fiquei um bocado incomodada com a situação.

Fomos lanchar. Éramos cinco estudantes de uma licenciatura sentadas na esplanada de um bar. Conto a história do homem que pede dinheiro para comprar pão, mais gente conta mais histórias de outras gentes e chegamos ao tema - ciganos! O que se seguiu foi uma vergonha. Disseram as minhas colegas que os ciganos eram uns ladrões, gente perigosa e orgulhosos da sua etnia, que mais não serve do que para intimidar os outros. Mas isto piorou. Disse outra colega minha que com os ciganos só havia uma coisa a fazer, "colocá-los todos dentro de uma tenda e atirar bombas lá para dentro para os exterminar a todos" - palavras dela.

Enquanto decorria esta porcaria de conversa, militantes do Bloco de Esquerda distribuíam pela esplanada panfletos que não chegaram até nós. Ao ver esta cena, cada uma de nós assumiu ser do Bloco de Esquerda.

Quanto a mim, estas conversas deixam-me muita assustada. Perturbada até. Vim para casa descontente com a forma como pensam as minhas amigas. Muito desiludida. Eu não permito a mim mesma pensar desta forma. Não deixo. Fazê-lo, seria "encaixar" as pessoas numa ideia pré-formada que tenho na minha cabeça e que me impediria de acreditar que as pessoas conseguem ser mais do que aquilo que penso delas.

Se ainda entendo que os meus pais, tios, familiares, pensem desta forma é para muito difícil aceitar isto em estudantes do ensino superior. É inconcebível e deixa-me com uma amargura muito grande em relação ao futuro do meu país, do meu mundo.

Julgo muitas vezes que só uma formação superior e de qualidade pode formar melhores cidadãos; mas conversas destas, que não têm sido poucas desde que entrei para a faculdade, deixam-me apreensiva, assustada, muito assustada.

Sinto-me perdida... Mas não desisto!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A brincadeira do povinho...

Um programa como este tem dois objectivos -  o primeiro é entreter e o segundo é conseguir chamadas, muitas chamadas, quantas mais melhor.

Neste estúpido programa os concorrentes têm de rebolar, correr, saltar, cair,... para que as suas contas sejam pagas.
Ao fim ao cabo, isto é do tipo, "nós pagamos a sua conta, mas tem de rebolar um bocadinho para entreter o público lá em casa,..."
Temos então o desgraçadinho do português, o Zé Povinho que, coitadinho, tem de ter uma história engraçadinha para lhe pagarem a sua continha.

Depois têm de abanar muito bem a sua facturinha e dar umas valentes "braçadas" a dançar.

É mesmo vida de desgraçado! É mesmo vida de português remendado.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

As pessoas estão fartas da Razão!

É na televisão, é no cinema, mas é também em romances... Leio os títulos, ou vejo na televisão e no cinema como a ficção nos alimenta e nos ocupa. São séries, filmes e livros sobre vampiros que vivem 200 e 400 anos, que bebem sangue e que agradam ao público... Só encontro uma explicação para isto, as pessoas estão fartas da razão e gostam de fantasiar.
Nas novelas da noite temos personagens tão vingativas e paranóicas que me custa a crer que exista alguém assim. Mas de uma coisa eu tenho a certeza, são as novelas que "mergulham" tantos espectadores numa calma provinciana a que tanto estão habituados.
O mesmo fazem os "Morangos com Açúcar" - estes últimos são para mim, um incrível incentivo à estupidez. A escola não consegue competir com os media, de maneira nenhuma. Dizia Rousseau, que o homem quando nasce é naturalmente bom, quem o corrompe é a sociedade. Julgo eu que ainda hoje a sociedade continua a cumprir fielmente o "seu papel", o de corromper o homem. É tão fácil seduzir e ser-se seduzido.
Digo com os meus 19 anos, que nós jovens, somos cada vez mais desresponsabilizados. Parece que continuamos umas crianças. A família, a sociedade, a escola, a faculdade, exigem tão pouco de nós. Acredito que todos consigamos dar muito mais do aquilo que aparentamente demonstramos, acredito que tenhamos capacidades e talentos que nós próprios ainda não descobrimos. Ou porque não nos dão uma oportunidade para isso, ou porque nós não damos a nós próprios essa oportunidade.
É tudo isto é a crise do modernismo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Força artistas!

 A última música dos "Deolinda" é qualquer coisa de extraordinário. Parece-me que com a actual a crise, os artistas deste país estão com uma excelente oportunidade para verem qual consegue ser mais intervencionista.
Põem com isto o povo a cantar, mas espero que consigam fazer mais do que isto.
Artistas deste país, força aí! Há que aproveitar o tempo de crise para pôr o talento a render...

Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.


Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.


Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.


Deolinda

domingo, 30 de janeiro de 2011

O mundo está a mudar!

As notícias que chegam dos países árabes não param de me surpreender. Dizia Fukuyama no seu livro "O Fim da História e o Último Homem", que após a queda do bloco soviético a história assumia o seu fim. Sumuel Huntington reagiu e escreveu um livro, "Choque das Civilizações e a Nova Ordem Mundial" no qual argumentava que agora o mundo se defronta com um choque de civilizações.
Parece-me a mim que ninguém, numa altura destas, esperava ou previa os conflitos que agora se passam nos países árabes. Não sei se alguma vez algo foi escrito acerca disto, mas disso não tenho conhecimento.

A verdade é que o mundo está a mudar, o mundo árabe está a mudar! Oiço e leio as notícias, e gosto do que vejo. Sei que no Egipto as vítimas são muitas, mas esta é uma oportunidade para que a democracia seja instaurada e que estes países se tornem um estado laico fora das influências religiosas.

Sempre ouvi dizer que os jovens, quando jovens, acreditam que podem mudar o mundo. Na verdade, uma parte de mim acha isso possível. Deve ser dos 19 anos. Acredito hoje, como nunca, que tudo está do nosso lado. Youtube, facebook, mensagens corrente via email ou sms`s, blogues,... tudo parece fácil e à nossa disposição. É como se todo o universo estivesse a conspirar para que uma mudança fosse levada a cabo.

Mas a inércia, a apatia e a preguiça tomam conta de nós.
Os media devoram-nos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

S.O.S.

Eram hoje 15h00 da tarde e nas ruas haviam míudos por todo o lado.
Uns jogavam à bola, outros de patins-em-linha e outros de bicicleta...

Estes míudos baldaram-se ás aulas?
Não, não se baldaram porque hoje não tiveram aulas!
O motivo prende-se à manifestação desta manhã das escolas de ensino cooperativo.

No local onde vivo existem três escolas e nenhuma delas é pública!
Todas estas escolas têm contrato de associação com o Estado.

Para encontrarmos um escola pública temos de percorrer 20 a 30 km.
Escusado será aqui referir que nunca estudei numa escola pública. Não porque não quisesse, mas porque elas não existem. Frequentar uma escola pública implicaria gastos nos transportes. Nunca paguei qualquer mensalidade por estudar no colégio que frequentei durante 8 anos. Nunca usei transportes, sempre fui a pé para o colégio e a única mensalidade que pagava era a do almoço. Nada mais.

Dos três colégios que nesta localidade existem todos eles são semi-privados. Nenhum aluno paga qualquer mensalidade para os frequentar. A única mensalidade que pagamos, é mesmo a do almoço. Os alunos que usam o transporte, têm também esse custo acrescido.
São aqui poucos os que sabem o que é uma escola pública.
Estes 3 colégios juntos têm perto de 4 mil alunos.

Aliás, para nós, não existe grande distinção entre o que é uma escola privada e uma escola pública.

O corte de financiamento agora aprovado, não dá a possibilidade a estas três escolas, ou colégios, como lhes quiserem chamar, de continuarem a prestar um serviço público.
É muito importante aqui reter, que estas escolas PRIVADAS prestam um serviço PÚBLICO!

É muito irritante ler nas caixas de comentários de tantos jornais online a opinião dos leitores. A opinião é tão infundada e mostra claramente que só fala quem não tem qualquer conhecimento de campo.
Mais: estas medidas, são em si, "medidas de secretrária", porque só podem ser tomadas por alguém que não tem qualquer conhecimento do terreno.

Reparem no seguinte, fechando estes 3 colégios, ficam sem escola quase 4 mil alunos. Mas as escolas públicas mais próximas não têm qualquer possibilidade para receber estes alunos. É incomportável. A própria Câmara Municipal já se manifestou dizendo que não existem condições para receber estes alunos nas escolas públicas que existem.

A situação é angustiante. Estes colégios, como tantas escolas públicas do país, têm cursos profissionais e tecnológicos com planos próprios em cada escola. Quer isto dizer, que os planos curriculares destes cursos foram elaborados pelos professores dos colégios e, que por isso, não existem noutras escolas. Ora, encerrando estes colégios, os alunos destes cursos do 11ºano e do 10º ao mudarem de escola, têm de voltar ao 10ºano e escolher outra área. Muitos deles desistirão de estudar, se é que não desistiram já. Porque não haverá vontade de estudar chegando a casa, sabendo que não há a possibilidade de chegarem até ao 12ºano. Isto é asfixiante e revoltante. No facebook, não faltam comentários de alunos que não vêm como concluir o 12ºano.

Mas toda esta situação tem mais consequências. Se o encerramento destas escolas se verificar, a própria rede rodoviária será profundamente alterada...

Termino dizendo, que sou a favor da escola pública. Se querem cortar no financiamento destas escolas, façam-no! Mas primeiro construam escolas públicas.